terça-feira, 19 de julho de 2016

Martin Luther King, Malcom X, X-men e Beyonce - o negro e o racismo nos EUA

Alguns meses atrás a cantora Beyonce lançou seu novo cd Lemonade e novo single "Formation". Um dia depois apareceu no Superbowl norte-americano (uma espécie de "final do brasileirão" do futebol americano), junto com bruno Mars e do Cris Martin do Coldplay. A cantora surgiu com dançarinas negras vestidas de panteras negras, um grupo radical que lutava pelos direitos civis dos negros.  A letra, o vestuário e principalmente o clipe chocaram os brancos conservadores que pediram um boicote à cantora. Um vídeo hilário de um grupo de comediantes (o Saturday Night Live) fez um alerta sobre o episódio que muita gente esquecia: Beyonce é uma artista de sucesso, dona de voz arrebatadora, uma empresária arrojada e é negra.

Assista o vídeo aqui


O clipe evoca várias questões sobre o negro e o preconceito nos Estados Unidos. Não é a toa que ele foi lançado no mês da história dos negros de lá. Beyonce aparece vestida como umagrande e rica senhora negra sulista (lugar onde a escravidão dos negros foi mais acentuada), em New Orleans (também no sul), com uma população majoritariamente negra, e que foi arrasada alguns anos atrás pelo furacão Katrina. Um menino dança em frente à uma tropa de choque da polícia e logo depois aparece uma pichação no muro com os dizeres "Parem de atirar em nós". Ela exalta, a estética e culturas negras e ainda critica quem debocha do nariz e penteado afro de seu filha de 5 anos, Blue Ivy, que também aparece no clipe. Durante a música também ouvimos a voz de Messy Mya, um youtuber gay e negro, que ao denunciar a violência policial em New Orleans foi assassinado.

Assista o clipe de Formation aqui:



A questão racial nos Estados Unidos é bastante polêmica (como no Brasil também). Durante um bom tempo alguns estudiosos chegaram à dizer que o racismo norte-americano era mais radical e forte que o do Brasil. Hoje sabemos que não é assim. Depois de séculos de escravidão, os negros conseguiram a abolição da escravatura ainda no século XIX, com a Guerra Civil Americana (1861-1865), mas isso não significou equiparação social e econômica do negro com o branco. Ao contrário, fora casos excepcionais (muitos no norte do país que impulsionou a abolição e saiu vitoriosa da guerra civil), no sul, reduto da maior parte da população de então, eles viviam à margem da sociedade, excluídos e separados dos brancos. Sendo perseguidos por membros de organizações racistas como a Ku Kux Klan que acreditavam na superioridade e supremacia branca.

 Brancos na frente, negros no fundo: ônibus segregado em Atlanta, em abril de 1956

Bebedouros separados para brancos e negros.

Reunião da Ku Kux Klan, um grupo paramilitar que perseguiu negros no sul dos EUA até o século XX. Começou suas atividades com o fim da Guerra Civil em 1865 e misturava uma ideologia de supremacia e superioridade branca com religião. Agrediam, perseguiam, assassinavam e faziam atentados contra estabelecimentos públicos e privados frequentados por negros. Fonte: http://escolakids.uol.com.br/segregacao-racial-nos-estados-unidos.htm
 

 

 Elizabeth Eckford, integrante do corajoso grupo de alunos negros que ingressaram pela primeira vez em uma escola de brancos, nos estertores da segregação nos EUA. As consequências que o grupo sofreu foram de insultos à violência pura e simples, como quando membros da parte branca da escola colocaram giletes no chão do vestiário que os alunos negros usariam, para que eles cortassem os pés.
Fonte: https://transversos.wordpress.com/2014/05/07/

Manifestante atacado por cães em protesto no Alabama em prol dos direitos civis dos negros (1963). Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-08-28/saiba-os-principais-fatos-na-luta-pelos-direitos-civis-nos-eua.html
Ruby Brigdes, desde a escada de sua escola escoltada por quatro policiais para protegê-la. Ela foi a primeira criança negra a ser matriculada em escola para brancos em New Orleans depois que a lei de anti-segregação foi sancionada. Para decidir quais crianças seriam as "pioneiras" matriculadas em colégios brancos foi aplicado um teste que havia sido criado de uma maneira para que as crianças negras não fossem capazes de passar.  Ruby passou, e sua família lutando por seus direitos, a inscreveu em uma escola só com alunos brancos matriculados.  Uma multidão de donas de casa e adolescentes brancos a perseguia e tentava agredi-la no caminho para a escola e para a casa. Os pais retiraram seus filhos da escola, que atendeu apenas 4 alunos durante todo o ano letivo, Ruby e mais quatro crianças brancas. Fonte: https://ppaberlin.com/2011/11/13/a-pequena-ruby-bridges-e-a-historia-do-racismo-nos-eua/

 A luta dos negros pelos seus direitos políticos e civis nos EUA começou a surgir e se intensificar entre as décadas de 50 e 60. Um dos momentos mais importantes foi a coragem de Rosa Parks (1913-2005). Em 1955, Rosa se negou a levantar para que um homem branco sentasse em seu lugar (na época os assentos dos ônibus eram segregados para brancos e negros). Ela foi presa, um boicote de 381 dias foi feito contra as empresas de ônibus na cidade de Montgomery (cidade onde Parks morava) e esse episódio se tornou o início da luta e do ativismo pelos direitos políticos e civis dos negros. Para saber um pouco mais sobre a luta dos direitos civis dos negros nos EUA indico esse site

 Depois de entrar no ônibus de sua cidade, Rosa Parks sentou-se junto de outros três negros nos bancos reservados para  negros nos fundos do ônibus. Alguns pontos depois um número grande de passageiros entrou no mesmo ônibus e o motorista (branco) exigiu que Rosa e os outros três levantassem para cederem seus lugares aos brancos que estavam em pé. Os três obedeceram, Rosa se recusou e calmamente sentou no lado da janela. Seu protesto silencioso se tornou o início da luta dos negros nos EUA.

Dois líderes se sobressaíram na defesa da população negra dos EUA: Martin Luther King (1929-1968) e Malcolm X (1925-1965). Os dois possuiam o mesmo ideal de melhorar as condições de vida dos negros norte-americanos, mas por vias diferentes. Martin luther King acreditava na necessidade de incorporar o negro na "American Way Of Life" (modo de vida americano) com os mesmo direitos que os brancos por uma via pacífica, já Malcolm X, muito mais radical, defendia a radicalidade para se alcançar os objetivos.

Martin Luther King, líder da luta contra segregação, em discurso

Malcolm X, mostrando os punhos cerrados em discurso
 
Martin Luther King era uma pastor batista que usou sua experiência nas pregações e boa oratória para conclamar o povo a lutar pelos seus direitos. Seu maior discurso "Eu tenho um sonho" se tornou um "hino" dos movimentos de luta por direitos civis. Ele defendia o direito ao voto, igualdades trabalhistas e o fim da segregação. Morreu assassinado em 4 de abril de 1968 no estado do Tennessee.

Malcolm X era um dos maiores defensores do movimento  nacionalismo negro. Teve uma infância pobre e juventude em meio aos guetos negros,onde se envolveu em crimes. Convertidos ao islã pelos familiares, ele se tornou mais tarde um dos principais membros religiosos de confiança de Elijah Muhammad, liderança religiosa islâmica, participando ativamente na luta pelos direitos civis dos negros. Morreu assassinado em 1965, aos 39 anos.


Discurso de Martin Luther King na Marcha para Washing em 1963 - "Eu tenho um sonho"
 
Se você quiser saber um pouco mais de Martin Luther King veja aqui
Se você quiser saber um pouco mais sobre Malcolm X veja aqui

Sabe quem esses dois e a luta dos negros inspiraram? Dá uma olhada!





X-men! O preconceito que os mutantes vivenciam nos quadrinhos e sua luta foi inspirado na história da luta dos direitos políticos dos negros nos EUA. Os dois principais líderes mutantes também! O professor Xavier possui ideais parecidos com os de Martin Luther King e o mutante Magneto com os de Malcolm X.

Martin Luther King e Malcolm X / Professor Xavier e Magneto


A luta pelo fim dos racismo e da violência contra os negros continua até hoje naquele país. Os abusos das autoridades, e principalmente da polícia, contra os negros são temas de campanha contra o avanço do racismo. Além disso, os EUA vivem um momento delicado na sua história, quando após a vitória e releição do primeiro presidente negro (Barack Obama), a figura de Donald Trump surge como forte candidato à sucessão presidencial nas próximas eleições. Figura polêmica, o candidato do partido republicano é conhecido pela postura e discurso racista. refletir  sobre essa questão é fundamental para entender a atualidade política e social norte-americana e a nossa também.






Nenhum comentário:

Postar um comentário